1 de julho de 2015

Hiroshima


Não são palavras que vão aqui encontrar,
São as lágrimas que sinto verter,
Por não parar de pensar,
Nas crianças que estavam na rua a rir e a correr.

A destruição não emergiu das profundezas,
Veio de cima, explodiu no ar,
Só porque alguns homens deliram com grandezas,
E se esquecem do seu verdadeiro lugar.

Arrancaram a pele à dor e soltaram-na sobre Hiroshima,
E ela com fúria de fera acossada,
Atirou-se a tudo em que punha a vista em cima,
Destruiu, matou, feriu, e por fim afastou-se cansada.

O pássaro já não cantou, morreu,
A luz não iluminou, cegou,
A água não secou, ardeu,
E a morte quando lá chegou, chorou.

O que viu, não foram os escombros de uma cidade,
Foi um retrato escuro do inferno,
Foi o mal, a doença e a insanidade,
A perpetuarem-se no eterno.

A verdadeira dor não está aqui escrita,
A verdadeira dor ficou nos olhos das crianças que cegaram,
Ficou nos milhões de orações de desgosto que se rezaram,
Embora a dor também aqui exista.

Lisboa, 22 de Junho de 2015.
José Baptista 

3 comentários:

Anônimo disse...

Poxa, preciso dizer que acompanho com muito gosto o blog e que dos blogs de poesia esse é com certeza um dos meus favoritos principalmente por tratar de poesia de verdade. Gostei demais do poema e mais uma vez parabéns pelo trabalho.
"J"

Laurentino Piçarra disse...

Poema muito realista que caracteriza a tragédia humana e o sofrimento dos mais desprotegidos -crianças, idosos...
Agradeço que possam dar uma olhadela no meu blog - "Os versos do Laurentino"

No Quadro de Clara disse...

"Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas"

Vinicius

Adorei o blog!