21 de abril de 2017

Em fome pela Recoleta

Fonte: http://www.pureviagem.com.br/noticia/buenos-aires-a-noite-animada-da-capital-da-argentina_a20845/1


À meia noite, Buenos Aires é um delírio
De pólvora e concreto esfarelado
Quando a fome entra ligeira, garganta a dentro,
E cada metro percorrido
faz da calle Corrientes, um pedaço esquecido do mundo

Na próxima esquina, a do esquecimento inóspito,
dos chicas se devoram em meio às sombras da madrugada
Juntas, pulsam ao ritmo elétrico da boate fluorescente

Hay vivir solo, cabron
?Si, pero ya lo soy, che?

Pigarreio as horas
?Lo que puedo hacer, sonreir?

Dois meninos cambaleiam até um velho automóvel
El chico uno lleva gafas
O outro, um cacho de bananas nanicas
Que me doem de desejo
Me acosté con hambre los últimos tres días
E os faróis e estações caminham pela calle Santa Fe
Tudo converge para o vendaval que preenche
as cadeiras vazias do Rincon Norteño
Me gustaria una hamburguesa completa
Mi humanidad pide que mi hambre se va
A fome é o desejo de esfarelar o cotovelo gasto,
o arranhar da barba pela vitrine fedorenta na dispersão da noite,
o rasgo no saco de lixo tóxico na esquina com a calle Riobamba

Como son felices, no? Padre, Madre y chicos
Assim como o meu salto desgraçado pelo sistema métrico
que cruza o Oceano Índico
e termina a dois passos do Sul
em meio a transa dos trópicos

No puedo ayudarte, joven
Todos sabem que é impossível medir o desejo
Ou os passos entre a lua
e o pé do estômago

Un viejo me llama y lo escucho

?Usted sabe que es posible predecir el futuro cuando los zapatos inundan la Recoleta?
?En serio? Si, compañero,
Mesmo quando o passo recuerda la lluvia y saudade,
indivisíveis e crônicas

Por cima do seu ombro,
pois já não há mais ombros lúcidos em Buenos Aires,
encaro, atônito, o breu que colore
o melancólico dezembro

? Qué pasa, che boludo?
            Não há luzes de natal,
? Se volvió loco, hombre?
Como pode haver natal sem luzes coloridas?

Una chica sorri e sussurra entre dentes
Como se llama, brasileño?

Pero, não la escucho
Mis pensamientos são de las luces parpadeantes
Mis ojos ahora piscam sem cessar

Pues não adianta
nada mais adiantará
Ya que no hay hambre no porão
E Buenos Aires pode tentar
Mas jamais será o trópico leste do mundo 



Anderson Estevan é paulistano, poeta e jornalista. Autor de "Cores Primárias" (2013), pela editora Multifoco. 

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